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Na Cidade de Coimbra, você vai poder visitar a Quinta das Lágrimas, que no século 14 foi o lar de Inês de Castro. Lá existe uma lendária fonte de águas cristalinas, e no solo dessa fonte, uma boa parte das pedras são vermelhas. Diz a lenda que essas pedras ficaram assim depois que Inês de Castro foi assassinada neste lugar por três infames conspiradores. O sangue da jovem caiu na fonte, e as pedras continuam vermelhas até o dia de hoje. A lenda também conta que neste lugar podemos escutar sussurros e, às vezes, o choro de uma jovem pedindo clemência. Naturalmente, é uma lenda popular, mas esses detalhes estão diretamente ligados à história real que vem a seguir.

Quem foi Inês de Castro?

Inês de Castro foi uma nobre dama da região norte da Espanha. Ela nasceu por volta dos anos de 1.320 e 1325 em Ourense, Galícia, e era filha de Dom Pedro Fernandes de Castro e da sua amante aristocrata Aldonça Soares de Valadares. A família Castro era uma das casas mais antigas e ilustres de Galícia e pertencia ao reino de Castela. Além disso, Inês também era parente direta da família real portuguesa por via materna.

Inês de Castro
Inês de Castro

Quando Inês de Castro tinha seis anos, sua mãe faleceu, e seu pai a enviou para o castelo de Peñafiel, em Portugal, para ser educada como dama de companhia sob os cuidados do Infante João Manoel, que também era Duque de Peñafiel e Marquês de Vilhena. João tinha uma filha que era mais ou menos da mesma idade de Inês, Constança Manuel. As duas cresceram juntas e se tornaram grandes amigas. João Manuel era um escritor famoso e muito instruído, autor de destacadas obras da literatura espanhola. Era um homem ambicioso e começou a negociar desde cedo o casamento da filha Constância com o melhor partido possível. Conseguiu arranjar o matrimônio da filha com o herdeiro da casa real portuguesa, o Príncipe Pedro, que era filho de Afonso Quarto, O Bravo, conhecido pelos muitos conflitos e guerras com a casa real de Castela.

Dama de Companhia de Constança Manuel

Constância partiu para sua nova terra em Portugal com um enorme séquito, muitos criados e várias damas de companhia, entre elas, sua íntima amiga Inês. Quando chegaram em Portugal, o Príncipe Pedro foi receber a sua futura esposa e, nesse momento, viu Inês. E naquele mesmo instante, se apaixonou por ela. Todos perceberam que Pedro não parava de olhar pra Inês, e foi correspondido. Inês também se apaixonou loucamente por ele, e se tornaram amantes em seguida. Porém, Pedro cumpriu com a palavra dada e se casou com Constança Manuel no dia 24 de agosto de 1.339, na Catedral de Lisboa. Esse casamento era de suma importância para criar laços e pacificar os conflitos entre os dois reinos de Portugal e de Castela. Mas o romance entre Pedro e Inês, longe de terminar, só foi ficando mais forte, para tristeza da pobre esposa Constança, que se sentia humilhada, já que não era segredo para ninguém na corte portuguesa que o seu marido e a sua melhor amiga tinham um romance. Por outro lado, Inês também teve que suportar o repúdio e desprezo de todos por manter um romance com o príncipe que estava casado com a sua senhora e íntima amiga.

D. Ines de Castro
D. Ines de Castro

Constância se sentia humilhada e rejeitada. E, quando nasceu o seu primeiro filho, escolheu Inês para ser madrinha do bebê. Desta forma, a relação entre Inês e Pedro seria considerada incestuosa pelo código canônico da época. Mas, a morte do pequeno Luiz, aos oito dias de nascido, livrou Inês do compromisso, levando os planos de Constância por água abaixo.

Exilada na Espanha

Vendo tudo isso, o rei Afonso IV, que já conhecia o filho e sabia que isso não era um amor passageiro, sabia que Pedro realmente estava apaixonado por Inês e, temendo ter problemas com o reino de Castela, mandou enterrá Inês imediatamente, enviando-a ao castelo de Albuquerque, em Extremadura, no norte da Espanha. Mas não adiantou, Pedro, perdidamente apaixonado, não esqueceu a sua amada e a visitava frequentemente, sem mencionar as inúmeras cartas de amor que os dois enviavam um ao outro. Esse amor só se tornou mais sólido.

Pedro e Constância tiveram uma segunda filha chamada Maria e, por último, tiveram um filho chamado Fernando. Algumas semanas depois do nascimento de Fernando, Constância morreu no dia 13 de Novembro de 1345. Depois da morte da esposa, Pedro se sentiu livre e mandou imediatamente buscar Inês, contrariando as ordens do pai, e se mudou com ela para a cidade de Coimbra, ao mosteiro de Santa Clara. Ali, o casal teve quatro filhos e viveu intensamente o seu amor.

Constança primeira mulher de D. Pedro I
Constança primeira mulher de D. Pedro I

Vivendo uma história de amor

Em 1351, Pedro solicitou ao Papa uma dispensa para poder se casar oficialmente com Inês, já que eles eram primos e esse grau de parentesco impedia o casamento segundo o direito canônico da época. Porém, esse pedido foi negado, e foi aí que começaram as conspirações. Pedro começou a se relacionar intimamente com a família de Inês, dando cargos de alta importância aos irmãos dela, que passaram a ser seus conselheiros mais diretos.

Temendo a influência da família Castro sobre o filho, o rei Afonso IV rapidamente começou a preparar para Pedro um casamento com com alguma outra princesa. Pedro sempre as recusava, declarando que Inês era o seu único e verdadeiro amor. Diante disso, o rei foi taxativo e, junto com seus conselheiros, decidiram que Inês jamais seria elegível para se tornar rainha de Portugal.

As conspirações

O Rei Afonso IV ouvia de seus conselheiros que havia um grande perigo para a coroa e o futuro do país se Inês de Castro viesse a ser rainha. Além disso, falou-se que a família Castro estava planejando vetar e inclusive assassinar Fernando, filho de Pedro com Constância, que naquele momento era o verdadeiro herdeiro ao trono, isso, para que os filhos de Inês se tornassem os primeiros na linha de sucessão.

Afonso IV foi alimentado com essas histórias e especulações, e após várias tentativas falhadas de afastar o casal, finalmente ordenou a morte de Inês no dia sete de janeiro de 1355. O rei Afonso IV cedeu às pressões de seus conselheiros e seguiu para Coimbra para executar a sentença. Para isso, aproveitou a ausência de Pedro, que estava em uma caçada. Inês, que já sabia das intenções do rei, apareceu diante dele acompanhada dos filhos, com a esperança de que o rei, ao ver os netinhos, desistisse dos planos de assassinato.

O assassinato de Inês de Castro

Neste ponto da história, existem duas versões. Alguns historiadores dizem que o rei, ao ver Inês com as crianças, se emocionou e desistiu dos planos. Porém, os três conselheiros, chamados Pero Coelho, Álvaro Gonçalves e Diego Lopes Pacheco, não tiveram piedade e atacaram Inês pelas costas, esfaqueando-a até a morte na presença dos filhos. A outra versão é que quando o rei chegou e viu Inês com os netos, não sentiu nada, não teve dó nem piedade, mandando matar a mãe igualmente na frente dos filhos.

No momento da execução, Inês de Castro estava junto à fonte e tinha apenas 29 anos. Quando Pedro descobriu que a sua amada havia sido brutalmente assassinada na frente dos filhos, ficou totalmente arrasado, jurou vingança e declarou uma guerra civil contra o seu pai. Foi em busca dos assassinos, e a guerra durou um tempo. Somente com a intervenção da rainha Beatriz de Castela, mãe e esposa dos enfrentados, conseguiram chegar a um acordo e selar a paz.

Execução de Inês de Castro
Execução de Inês de Castro

A vingança de Pedro I

No entanto, dois anos mais tarde, o rei Afonso morreu, e Pedro ascendeu ao trono em 1357. Um dos seus primeiros atos como rei foi a declaração de que ele e Inês tinham, na realidade, se casado em segredo alguns anos atrás. Por isso, embora estivesse morta, tornou-se rainha legítima e assumiu os filhos como herdeiros. Em seguida, Pedro procurou os assassinos de Inês, mas somente conseguiu capturar dois, já que um conseguiu escapar a tempo. Cego de ódio, mandou preparar um banquete e trouxe um convidado especial: um carrasco. Pedro mandou trazer os prisioneiros e mandou amarrá-los em postes. Depois de um breve interrogatório, ordenou ao carrasco que arrancasse o coração de um deles pelas costas e do outro pelo peito. Um detalhe importante: os prisioneiros estavam vivos. Comenta a lenda que Pedro fez isso para que eles soubessem o que ele tinha sentido quando assassinaram a sua amada. E aqui ganhou os famosos apelidos: Pedro o justiceiro para alguns e Pedro o Cruel para outros. De qualquer forma, por fim, havia conseguido a sua vingança.

Inês de Castro
Inês de Castro

Coroada depois de morta

E aqui entramos em outra parte dos fatos que não puderam ser comprovados. Não se sabe se é lenda ou se realmente aconteceu, mas comenta-se que, depois de Pedro declarar que Inês era sua legítima esposa e, portanto, rainha de Portugal, mandou exumar o corpo dela. Preparou a cerimônia de coroação, exigiu a presença de toda a corte e, além disso, forçou a todos os presentes a jurar lealdade à nova rainha e a beijar sua mão em sinal de reverência, como era de praxe. Depois da coroação, Pedro ordenou o traslado dos restos mortais da sua amada para um túmulo que mandou construir em Alcobaça.

O cortejo fúnebre foi imenso, com milhares de pessoas, e todos levavam velas acesas enquanto acompanhavam a rainha morta até o seu lugar de descanso no Mosteiro de Alcobaça. Neste lugar se encontra o maior expoente da arte funerária da história de Portugal. Pedro encomendou a construção de dois túmulos em mármore decorados com cenas das suas vidas e prometeu a Inês que ficariam juntos até o fim do mundo. 

A trágica história de amor mais famosa de Portugal

O romance entre Pedro e Inês é, até hoje, o mais famoso e trágico caso de amor da história portuguesa. Essa história vem sendo contada e recontada em diversas obras, peças, livros por grandes escritores e poetas, entre eles, Camões, no canto três dos Lusíadas.

Túmulo de D. Inês de Castro
Túmulo de D. Inês de Castro

Veja o video de D. Inês de Castro aqui: 👇

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