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Quem foi Maria Amelia de Bragança?

Ela ostentava o título de princesa do Brasil ainda que não nasceu nele e nunca chegou a conhecer terras brasileiras. Maria Amélia de Bragança foi uma das primeiras mulheres a estudar física e astronomia.

Ela recebeu o nome de Maria Amélia Augusta Eugênia Josefina Luiza Teodolinda Heloísa Francisca Xavier de Paula Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança.

Maria Amélia de Bragança, princesa do Brasil, nasceu em Paris. Ela foi a única filha de Pedro Duque de Bragança e da sua segunda esposa Amélia princesa de Leuchtenberg.

Seu pai havia sido Imperador do Brasil como Pedro I e Rei de Portugal como Pedro IV, trono do qual abdicou apenas dois meses após a sua aclamação em favor da sua filha mais velha Maria II.

Porém, dois anos depois, ela foi afastada do trono por seu tio, o irmão mais novo de Pedro, que assumiu o trono como Miguel I.

A abdicação de Dom Pedro I

No Brasil, eles estavam enfrentando alguns problemas. A rixa entre políticos conservadores e liberais, bem como a rivalidade entre brasileiros e portugueses que estavam radicalizados no Brasil. 

Além disso, Dom Pedro I tinha um forte desejo de recuperar a coroa da sua filha. Somando todos esses fatos, o então Imperador Pedro I abdicou do Trono do Brasil em abril de 1831 em favor do seu filho Pedro II.

Partida da família para Portugal

Com isso, ele partiu para Europa com a sua esposa que estava grávida de Maria Amélia.

Por parte de pai, Maria Amélia era membro do ramo brasileiro da dinastia de Bragança sendo neta de Dom João quarto de Portugal e da sua esposa Carlota Joaquina de Bourbon. 

Por outro lado, no lado da mãe, era neta do Príncipe Eugênio de de Beauharnais, filho adotivo de Napoleão e da princesa Augusta da Baviera, filha mais velha do Rei Maximiliano da Baviera 

Como nasceu na França, para que Maria Amélia fosse reconhecida como princesa do Brasil, Pedro convidou várias pessoas para presenciar o seu nascimento, inclusive, o embaixador do Brasil.

A recém-nascida teve como padrinhos o rei Luiz Felipe I da França e a sua esposa Maria Amália de Bourbon e duas Sicílias.

A relação de Maria Amélia de Bragança com seu pai

Dom Pedro I ficou encantado com a bebê Maria Amélia. No dia 4 de dezembro, enviou uma carta para os seus outros filhos que ficaram no Brasil incluindo o futuro Pedro II com a seguinte mensagem:

“A Divina Providência quis diminuir a tristeza que sente meu coração paterno pela separação de Vossa Majestade Imperial dando-me mais uma filha e, à Vossa Majestade Imperial, mais uma irmã e súdita …”

Após umas semanas, ele partiu para os Açores, onde organizaria uma força expedicionária para invadir Portugal e reivindicar o trono da sua outra filha Maria II.

Enquanto isso, Maria Amélia viveria em Paris com a sua mãe e as suas duas meio-irmãs, a rainha dona Maria a segunda e a Duquesa de Goiás filha do Dom Pedro I com a famosa Marquesa de Santos.

O encontro de Maria Amélia com seu pai

Dom Pedro conseguiu a Vitória e Dona Amélia partiu com a sua filha e a sua enteada para Portugal, chegando a capital em setembro de 1833.

Charles Napier um oficial naval britânico que lutou ao lado de Dom Pedro escreveu as seguintes palavras sobre esse encontro:

“Nunca o vi [Pedro] tão feliz e satisfeito. Ele embarcou um pouco acima de Belém e foi recebido na escada pela imperatriz [Amélia] que abraçou-o e beijou-o com o maior carinho: a rainha estava muito emocionada e não conseguiu segurar as lágrimas. A princesinha Amélia, sua filha mais nova, teve boa parte de sua atenção: ela ficou um pouco assustada com sua barba espessa e não correspondeu muito às suas carícias.”

Dessa forma, Miguel primeiro foi derrotado e exilado de Portugal. Maria Amélia e sua família estabeleceram-se em Portugal residindo inicialmente no palácio do Ramalhão. Mais tarde, seguiram no Palácio Real de Queluz, próximo a Lisboa.

A morte de Dom Pedro I

Apesar de ter conseguido a vitória, o conflito que Dom Pedro teve que enfrentar contra o irmão minou muito a sua saúde e ele acabou contraindo tuberculose.

Pedro já havia estabelecido uma relação muito próxima com a sua pequena filha e eles adoravam um ao outro.

Maria Amélia, que ainda não havia completado três anos de idade foi levada na madrugada de 24 de setembro de 1834 ao leito de morte de seu pai.

Muito fraco ele levantou as mãos para abençoá-la e disse:

“Sempre fale a esta criança do pai que a amava tanto… não se esqueça de mim… sempre obedeça sua mãe… esses são os meus últimos desejos…”
Dom Pedro I em seu leito de morte
Dom Pedro I em seu leito de morte

Na tarde daquele mesmo dia, Dom Pedro I faleceu. A sua viúva Amélia não voltou a se casar e se mudou para o palácio das janelas verdes e dedicou-se a supervisionar a educação da filha.

O não reconhecimento de Maria Amélia de Bragança como membro da Família Real Portuguesa

Ainda que elas estivessem estabelecidas em território Luso, elas não pertenciam a família real Portuguesa. Sem sucesso, Amélia solicitou ao governo o reconhecimento dela e de sua filha como membros da família imperial brasileira com direito a uma renda anual.

Dom Pedro II ainda era menor de idade e o Brasil era governado por uma Regência que temia uma possível influência da Imperatriz viúva nos assuntos do Estado.

Dom Pedro II
Dom Pedro II

Por esse motivo o governo Imperial se recusou durante anos a reconhecer Maria Amélia como princesa brasileira. A desculpa foi de que ela havia nascido território estrangeiro e proibiu que ela e a sua mãe pusessem os pés no Brasil.

Isso só mudaria com a maioridade de Dom Pedro II em 1840, que defendia o reconhecimento de mãe e filha como membros da família imperial brasileira.

A Educação de Maria Amélia de Bragança

Maria Amélia foi crescendo e se tornou uma garota de beleza impressionante e inteligência cultivada.Ela recebeu uma educação refinada sendo muito hábil em desenho pintura e ao piano.

Desenho feito por Maria Amélia
Desenho feito por Maria Amélia

Ela adorava poesia e também era fluente em português francês e alemão.

Aparentemente uma das principais motivações para sua dedicação aos estudos era o seu pai o Duque de Bragança. Mesmo não estando mais presente em vida, representou muito em sua vida e sempre era lembrado pela jovem princesa.

Na verdade, ela nunca foi capaz de lidar com a morte de seu pai e isto a tocava profundamente. Uma carta escrita pela princesa em 27 de agosto de 1851 fala um pouco sobre o seus sentimentos:

Estive no Palácio Real de Queluz… Após a morte de meu pai, nunca havia visto este palácio novamente. Não conseguia lembrar-me de nada, absolutamente nada, com exceção do quarto onde meu pai morreu!… Lá lembrei-me de tudo. Cada objeto foi gravado em minha memória, mesmo tendo, naquela ocasião, três anos de idade! Foi com grande emoção que entrei naquele quarto!… A cama… a cama ainda é a mesma, no mesmo local, com as mesmas cortinas, as mesmas colchas, os mesmos travesseiros… tudo tão bem preservado… Ai…
O jardim é bonito; foi-me mostrado um laranjal, plantado no mesmo ano da morte de meu pai, e por sua ordem, e um plátano plantado por ele… Uma profunda tristeza invadiu-me ao contemplar estas árvores que tinham sobrevivido a meu pai e que, provavelmente, sobreviverão a todos nós. É uma imagem da fragilidade humana. O homem é o mais frágil de todos os seres; ele morre, enquanto os objetos aparentemente criados para seu uso, suportam a séculos!… Mas estou divagando em minhas reflexões melancólicas…”

O amor de Maria Amélia e Maximiliano da Áustria

No início do ano de 1852, o arquiduque Maximiliano da Áustria que servia na Marinha austríaca, visitou Amélia e Maria Amélia durante uma escala em Portugal.

Maximiliano da Áustria
Maximiliano da Áustria

Eles já se conheciam e se encontraram pela primeira vez em uma reunião familiar quando o Maximiliano tinha seis anos de idade e Maria Amélia tinha sete.

Desse modo, nessa reunião as famílias mais ou menos arrajanram um casamento entre os dois. Naquela época, era muito comum acertar o casamento dos filhos ainda pequenos e nessa reunião as duas crianças se deram muito bem.

O quase noivado de Maria Amélia e Maximiliano

Então, Maximiliano cresceu pensando que Maria Amélia seria a sua esposa e decidiu fazer essa viagem à Lisboa para conhecê-la melhor. Chegando lá o reencontro foi idílico já que novamente se deram muito bem. Ele passou duas semanas em companhia da ex-Imperatriz Amélia e da Princesa Maria Amélia.

Sobre esse encontro Maximiliano escreveu no seu diário o seguinte:

“A mais gentil e sem dúvida a mais espirituosa figura da corte portuguesa é de longe a Imperatriz viúva Amélia, a segunda esposa de Dom Pedro I que mora com a sua gentil e muita adorada filha, que é uma perfeita princesa como raramente se encontra.”

Naquela ocasião os dois passeavam apaixonados, Maximiliano poderia perfeitamente ter pedido a mão da princesa em casamento.

Porém, haviam alguns impedimentos. Primeiro que a princesa ainda não tinha um dote fixado, segundo, que ela não se encontrava muito bem de saúde, o que impedia  qualquer negociação de noivado e terceiro, Maximiliano era um segundo filho e o seu irmão mais velho ainda não estava casado e isso impedia qualquer negociação.

Por outro lado, os dois fizeram planos de casamento durante aquele encontro ainda que nada fosse oficializado já que eles estavam perdidamente apaixonados um pelo outro.

A doença de Maria Amélia

Porém, em fevereiro de 1852 Maria Amélia contraiu escarlatina com o passar dos meses ela não se recuperou e tinha uma forte tosse, sintoma claro de tuberculose.

No dia 26 de agosto, a princesa deixou o palácio onde vivia e seguiu para a ilha da madeira com a esperança de que o clima da Ilha iria curá-la já que essa Ilha tinha fama de curar esse tipo de doença.

A mudança de Amélia e Maria Amélia para a Ilha da Madeira

Mãe e filha desembarcaram no dia 31 de agosto no Funchal que era a capital da ilha. Toda a cidade as recebeu com muita alegria e uma multidão as acompanhou até a sua nova casa.

Maria Amélia adorou a ilha e dizia:

“Se eu um dia recuperar a minha saúde, vamos ficar muito tempo nesta ilha, vamos fazer longas excursões nas montanhas, vamos encontrar novas trilhas, como só fizemos em Stein.”

Mas ela só piorou e no final de novembro já havia perdido as esperanças.

No início de 1853, a princesa estava de cama e já sabia que a sua morte se aproximava:

“A minha força diminui dia a dia; eu posso sentir isso… estamos chegando ao começo do fim!”

A precoce morte de Maria Amélia de Bragança

Pouco depois da meia-noite, na madrugada do dia 4 de fevereiro, um sacerdote administrou a Extrema unção.

Retrato de Maria Amélia em seu leito de morte
Retrato de Maria Amélia em seu leito de morte

Maria Amélia tentou consolar a mãe dizendo:

“Não chore … deixe que a vontade de Deus seja feita; que Ele possa vir em meu auxílio em minha última hora; que Ele possa consolar minha pobre mãe!”

Logo em seguida, Maria Amélia morreu. Seus restos mortais foram enterrados ao lado dos do seu pai no panteão dos Bragança no Mosteiro de São Vicente de Fora. Mas, quase 130 anos depois em 1982, o corpo de Maria Amélia foi transladado para o Brasil. Sendo definitivamente sepultado na cripta do convento de Santo Antônio no Rio de Janeiro junto a outros membros da família imperial brasileira.

O legado de Maria Amélia

A sua morte tocou profundamente a todos que a cercavam. O seu irmão Dom Pedro II, jamais conheceu a sua irmã pessoalmente, mas havia desenvolvido uma forte relação com ela através de suas Cartas.

A Imperatriz viúva financiou a construção de um hospital no Funchal chamado princesa dona Maria Amélia em honra a filha e o hospital existe até os dias de hoje.

Hospital Princesa Maria Amélia em Funchal
Hospital Princesa Maria Amélia em Funchal

Durante muito tempo, o arquiduque Maximiliano foi assombrado pelas lembranças da sua amada Maria Amélia. Mesmo após o seu casamento com Carlota da Bélgica, ele fez uma peregrinação pessoal aos locais ligados a Maria Amélia.

A morte de Maximiliano

Por fim, ele acabou se tornando o imperador do México em 1864 mas devido a uma tremenda guerra civil naquele país. Os republicanos venceram e Maximiliano foi condenado e executado em 1867.

Porém, os seus últimos pensamentos foram para Maria Amélia. Ele levava sempre consigo um pequeno medalhão da Virgem Maria no pescoço. Quando ele foi despojado de todos os seus pertences para poder ser executado, pediu encarecidamente que entregassem aquele medalhão a Imperatriz viúva Amélia.

Maria Amélia a princesa flor partiu cedo e não chegou a conhecer o Brasil, a terra da qual sempre dizia que amava e esperava ansiosamente conhecer.

Assista a biografia completa de Maria Amélia de Bragança:

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